52ª Aula - orientação de variedade-2 em ℝ3 e variedade-2 orientável; exemplo de variedade-2 não orientável (banda de Möbius). Referência a spin de matriz antisimétrica 3x3 com componentes reais e relação de rotacional com spin da aparte antisimétrica de matriz jacobiana. Enunciado do T. de Stokes e prova em vizinhança de coordenadas de superfície C2 em ℝ3. Extensão dos TFC a variedades com cantos. Invariância de divergência e rotacional com transformações de coordenadas. Referência a aplicações do TFC. Anulação do fluxo de um rotacional contínuo numa variedade-2 compacta em ℝ3.
28 maio 2019, 11:30 • Luis Magalhães
Revisão: Lista dos vários casos do T.Fundamental do Cálculo que foram obtidas: (1) Regra de Barrow (1670),(2) Para integrais de linha, (3) T.de Gauss (1889), (4) T.de Green (1851), (5) T.de Stokes para superfícies em ℝ 3 (1869), (6) T. da Divergência para integrais múltiplos em ℝ n (1889); obtivemos (3) e (4) como casos particulares de (6) e (5) como aplicação de (6).
Definição: Diz-se que uma variedade-2 M em ℝ 3 é orientável se existe um campo vectorial contínuo de normais unitárias a M , i.e. n:M→ℝ 3 tal que n( x)⊥TxM , ||n( x)||=1 . Diz-se que n define uma orientação de M .
Observações:
(1) Se g:V→ℝ3 é uma parametrização de uma vizinhança de coordenadas de uma variedade-2 em ℝ3, então g(V) é orientável e a orientação induzida por g é n(x) = (D1gxD2g)/||D1gxD2g|| (g-1(x)) , logo, as variedades-2 são localmente orientáveis.
(2) Há variedades-2 em ℝ3 não orientáveis, como por exemplo uma banda de Möbius.
(3) Referência a matrizes antisimétricas e spin. rot f é spin de 2 vezes parte antisimétrica da matriz jacobiana , i.e. 2[(1/2)(Df-(Df)t] .
(4) Na prova do T. de Stokes obteve-se com o T. de Green: se D é domínio regular de vizinhança de coordenadas de variedade-2 C2 M em ℝn parametrizada por g:D→ℝn C2, então ∫∫g-1(D) (D2g)t[(Df)-(Df)t](D1g) = ∮∂Df·dβ, em que β=g∘α e α é caminho que descreve g-1(∂D) no sentido antihorário.
T de Stokes (TFC para integrais em variedade-2 de ℝ3): Se M⊂ℝ3 é uma variedade C2 orientável, com orientação n , A⊂M é um domínio regular em M , f é um campo vectorial C1 em A com valores em ℝ3, β designa caminho(s) regular(es) simples fechados que representam o bordo ∂A , então ∫Arot f·n = ∮∂Af·dβ .
Dem. do T. de Stokes:
(1) localmente para funções com suporte numa vizinhança de coordenadas de M feito quando se motivou e obteve uma fórmula para o rotacional, baseado na aplicação do T. de Green e na parametrização da vizinhança de coordenadas.
(2) globalmente (tal como para o T. da Divergência usam-se partições da unidade para juntar as contribuições locais).Como A é compacto tem cobertura admissível finita ℱ={U 1, ..., U N} tal que o resultado é válido para funções com suporte em cada um dos U j . Se Ψ={ψ 1,..., ψ N} é partição da unidade finita em D subordinada a ℱ, com supp ψ j ⊂ U j , de (1) é ∑ j ∫ Arot(ψ j f)·n = ∑ j ∮ ∂A(ψ j f) ·d β = ∮ ∂A f·d β . Como rot(ψ j f) = ∇ψ jx f + ψ j rot f , é ∮ ∂A f·d β = ∫ A∇(∑ jψ j)x f + ∑ j ∫ Aψ j rot f·n = ∫ Arot f·n , pois ∇(∑ jψ j)=∇1=0 .
Observações:
(1) T. de Stokes (n=3, m=2): ∫Drot f·n = ∮∂Df·dβ, o integral de linha no bordo ∂D do domínio regular D de variedade-2 em ℝ3 no sentido positivo ou antihorário quando visto do lado para onde aponta a orientação n de D.
(2) Notação (e mnemónica de cálculo): div f=∇·f e rot f=∇xf .
(3) No T. de Stokes ∂D pode ser desconexo para D domínio regular numa variedade-2 em ℝ3, assim como no T. da Divergência para D domínio regular em ℝ3 (e no T. de Green em que ∂D pode ser uma união de curvas fechadas simples). Exemplos de uma porção de superfície cilíndrica de revolução com bordo união de duas circunferências desconexas e de domínio regular desconexo no plano.
(4) O TFC também é válido para domínios regulares D com cantos, ou seja com ∂D uma variedade com cantos (que estende a ideia de caminho seccionalmente regular (para m=1)), ou seja uma variedade-m M com cantos em ℝn é união finita M=M1∪···∪MN de variedades-m em ℝn com bordos que são uniões finitas de variedades- (m-1) em ℝn com bordos que satisfazem a correspondente propriedade sucessivamente até chegar a variedades-1. (a prova baseia-se na aproximação uniforme de um domínio regular com cantos em ℝn D por uma sucessão de domínios regulares e na obtenção do TFC para o domínio regular com cantos por passagem ao limite, observando que os bordos das variedades-(m-1) em que se decompõe ∂D têm medida-(m-1) nula). Em consequência, a hipótese da variedade-2 ser C2 pode ser omitida.
(5) Considerando para um ponto a∈ℝ3 domínios regulares Dε de variedades-2 M em ℝ3 tais que a∈Dε com área V2(Dε)→0 quando ε→0 , como se f é C1 então rot f é contínua, obtém-se que rot f(a)·n(a) é o limite da circulação de f (do trabalho de f se é um campo de forças) em torno de a em curvas regulares simples fechadas contidas em variedades-2 que contêm a e têm plano tangente em a normal a n, quando a linha fechada tende para a . Logo, rot f·n é uma entida "intrínseca".
(6) div f=∇·f e rot f·n=(∇xf)·n são operadores diferenciais intrínsecos (invariantes sob transformações de coordenadas).
(7) volumes podem ser calculados por integrais de superfície e áreas podem ser calculadas por integrais de linha com campos com divergência 1. Referência a curvímetros como instrumentos usados em cartografia que permitem calcular áreas de conjuntos planos limitados por curvas fechadas simples uma vez "passados" sobre essas curvas.
Proposição: Em qualquer variedade-2 M compacta em ℝ3 orientável o fluxo do rotacional de qualquer campo vectorial C1 em M é 0 (semelhante ao integral de linha do gradiante de qualquer campo C1 sobre curvas regulares simples fechadas ser 0 ).
(Dem.: Escolher um ponto na variedade, e em torno dele um caminho regular fechado simples g . A variedade fica separada pela curva correspondente em duas componentes conexas M1, M2 e, do T. de Stokes, o fluxo do rotacional numa destas é o integral de linha sobre o caminho e sobre a outra é o simétrico, pelo que o fluxo em M é a soma dos dois integrais de linha, logo 0).