História



A Engenharia 'Chimico-Industrial' foi um dos 5 cursos de engenharia criados com o IST em 1911. O seu elenco inicial procurava ser actualizado e incluía cadeiras tais como «Electrochimica» e «Chimica-Physica e Radioactividade».

O curso de Engenharia Química era então um curso baseado em Química Aplicada, compreendendo também uma sólida formação em Matemática, em Física e em cadeiras gerais de engenharia. A reforma de 1919, para além de substituir mais um trabalho oficial por «Trabalhos práticos nos laboratórios e de vidraria no laboratório», introduz três cadeiras anuais autónomas de Química Tecnológica (em número igual ao das cadeiras de Química Analítica) e, mantendo as Análises Biológicas e Bromatológicas (criadas em 1912), introduz também as Análises Industriais.

Esta situação manter-se-á sem alteração apreciável até à reforma de 1955 onde, para além das cadeiras de Tecnologia Química, aparecem ainda as cadeiras de Indústria Químicas e a Química Analítica vê o seu peso curricular diminuído. O espírito destas alterações podemos captá-lo das palavras de um dos grandes mestres do Instituto, A. HERCULANO DE CARVALHO, escritas na Técnica em 1954.

«Verifico em primeiro lugar que a significação da expressão «engenharia química», ou pelo menos aquela que hoje é adoptada nos Estados Unidos e admitida já em pouco por toda a parte da Europa, é diferente da que se aceitava há vinte anos. Podemos hoje considerá-la como uma especialização dentro da engenharia química do tipo clássico, especialização que se tem desenvolvido tanto e tem tanta importância que, mesmo nos países em que não possa ter autonomia formando um curso completo, terá mesmo assim, que considerar-se como a espinha dorsal de qualquer curso de engenheiros químicos. Isto quer dizer que as matérias clássicas de química deixaram de ser o suporte essencial do curso. Mas reconhecer esta realidade não é afirmar que tais matérias perderam importância, nem que seja admissível organizar tal curso esvaziando-se de qualquer conteúdo químico. O que é necessário seleccionar entre as matérias clássicas aquelas que continuam a ser indispensável à formação e à vida profissional do futuro engenheiro. Não pode dizer-se que a nossa Escola se tivesse alheado dessa evolução. Assim a actual cadeira de Química Tecnológica mostra que a evolução foi lucidamente compreendida. E, pelo que respeita à Química Analítica, houve a redução do antigo curso teórico de seis semestres para três».

Com o tempo esta dicotomia viria a acentuar-se ainda mais: por um lado a necessidade crescente de aproximar o curso de um conceito moderno, e em desenvolvimento, da engenharia química no sentido anglo-saxónico; por outro lado o peso da tradição das cadeiras de Química, peso que se acentuava pela expansão de uma forte escola de Química dentro do Instituto. Uma primeira tentativa de resolução desta dicotomia surge em 1970 com a criação de dois ramos no curso de Engenharia Química, o Ramo de Tecnologia e Indústria, mais tecnológico, e o Ramo de Química e Processos mais direccionado para a Química.

Esta evolução viria a ser aprofundada primeiro com a restruturação curricular iniciada em 1983 e, posteriormente com a restruturação iniciada em 1996, as quais apresentaremos mais adiante.

Falar dos primeiros anos do curso de Engenharia Química no Instituto Superior Técnico é falar do PROFESSOR CHARLES LEPIERRE. Nascido em Paris em 1867 CHARLES LEPIERRE obtém em 1887, o título de engenheiro químico pela «École de Physique et de Chimie Industrielles». Por sugestão de Roberto Duarte da Silva, português caboverdiano, seu professor em Paris, foi contratado, pelo governo português, como chefe de trabalhos de química da Escola Politécnica e como preparador do Instituto Industrial de Lisboa, chegando a Portugal em 1888.

Em 1889 vai para Coimbra onde, a partir de 1891, começa a trabalhar no laboratório de Microbiologia da Universidade e lá permanece até Agosto de 1911, data em que veio para Lisboa como professor do Instituto Superior Técnico. Em 1919 foi nomeado professor do Instituto de Hidrologia, do qual foi presidente a partir de Julho de 1933.

Foi nomeado director do Laboratório do Instituto Português de Conservas de Peixe em 1935 cargo que conservou mesmo além do jubileu (Novembro de 1937) e até à sua morte (17 de Dezembro de 1945).

Embora a análise química fosse a sua área principal, realizou também trabalhos nas áreas da química inorgânica, bromatologia e biologia geral, bacteriologia e higiene, hidrologia, além de outras. A análise da sua obra mostra, para além da versatilidade e poder de assimilação das novas técnicas físico-químicas que iam sendo introduzidas, a capacidade de responder a problemas concretos que o meio exterior punha à Universidade e que está na base da tradição de prestação de serviço do LABORATÓRIO DE ANÁLISES DO IST. Citamos, nesta fase um novo método de ataque e dosagem do volfrâmio (área em que o Laboratório de Análises teve um papel predominante durante a 2ª Guerra Mundial), um trabalho analítico imenso sobre águas minero-medicinais e pelo que é particularmente conhecido, estudos sobre o pinhão (1932), os pimentões (1934) e, em colaboração com Peres de Carvalho, professor de química orgânica do Instituto, um estudo sobre o os azeites (1930) de grande relevância para a industria de conservas de peixe em Portugal. Neste domínio fez também estudos de grande fôlego sobre a presença de chumbo nas conservas e a sua toxicidade, sobre a presença de estanho, sobre o valor alimentar das conservas de vários peixes, etc. A linhagem científica de Charles Lepierre é continuada por ANTÓNIO HERCULANO DE CARVALHO. A sua carreira como docente do Instituto espalha-se desde 1922 até 1969, data em que se jubilou. Foi director do IST e Reitor da UTL. Da sua actividade como cientista extra-muros da Escola é de referir a sua actividade como Vogal do Conselho Superior de Indústria, Vogal do Centro de Estudos de Energia Nuclear, membro da direcção do Instituto de Alta Cultura, presidente do Instituto Português de Combustíveis, membro do Conselho Superior de Instrução Pública e Chefe do Laboratório de Investigação do Hospital Escolar.

No trabalho, essencialmente de Química Analítica, de Herculano de Carvalho, há que destacar o interesse pelos aspectos associados de química inorgânica das soluções com a sua componente de Química-Física, o qual eventualmente estaria na origem das escolas de química Inorgânica e Analítica e de Química-Física do Instituto, através de FRAÚSTO DA SILVA (professor catedrático de Química Analítica) e de JORGE CALADO (professor catedrático de Química-Física). Na Química Orgânica não é possível traçar uma árvore genealógica pois na sua história encontramos várias soluções de continuidade. PERES DE CARVALHO, a que já fizemos referência, foi afastado por razões políticas sem ter tido tempo de fazer escola. PIERRE LAURENT, um francês, que o substituiu, embora um químico activo que motivou vários jovens para a investigação e que procurou contactar com o exterior principalmente no domínio dos óleos essenciais, foi afastado em 1961 sem deixar continuadores. Uma nova época começou em 1962 com BERNARDO J.HEROLD que detém a cadeira de Química Orgânica.

Até 1948 a direcção das disciplinas de índole tecnológica esteve a cargo do Engº JOÃO LOPES RAIMUNDO, um docente com interesses pessoais nas indústrias do ácido sulfúrico e do vidro. Procurava que os seus alunos tivessem uma perspectiva industrial e o seu mote era que a unidade a usar devia ser a tonelada e não o miligrama. O seu afastamento em (1948 (por razões políticas seguidas de problemas de saúde) atirou para a direcção das cadeiras tecnológicas o jovem assistente de matemática e mecânica racional, Engº LUIZ DE ALMEIDA ALVES, primeiro como regente e, a partir de 1950, como professor catedrático. A seu cargo estavam as cadeiras de Química Tecnológica e de Indústrias Químicas I e II. Almeida Alves moderniza estas cadeiras e produz textos(na altura totalmente inovadores em Portugal) para uso dos alunos, dedicando a cadeira de Química Tecnológica ao estudo das operações unitárias e analisando nas cadeiras de Indústrias Químicas as principais indústrias químicas portuguesas quantificando-as a partir de operações unitárias usadas.

A reforma de 1955, introduzindo o ensino da Instrumentação e Controlo, a disciplina de Instalação e Serviços Industriais e dando tempo semanal elevado às Práticas de Engenharia Química, contribuiu para reforçar a componente tecnológica do curso, situação que a reforma de 1970 veio a consagrar dividindo o curso em dois ramos como referimos anteriormente.

A acção iniciada por Almeida Alves (figura tutelar de Tecnologia Química no IST até à sua jubilação em 1990) foi posteriormente desenvolvida por colaboradores seus que consolidaram as suas bases teóricas através do doutoramentos realizados no estrangeiro: JOAQUIM BARBOSA ROMERO (o primeiro assistente de Almeida Alves e que continuou a sua obra na Universidade de Lourenço Marques, Moçambique e, posteriormente na Universidade do Minho), TAVARES DA SILVA E FARINHA PORTELA (que, diversificando, introduziu os estudos de catálise no IST). Contribuindo também significativamente para o ensino da Tecnologia Química do IST dois engenheiros recrutados no Laboratório de Investigação da CUF (o maior complexo químico português da altura): BARBOSA DE SOUSA E AQUILES GOMES.

A institucionalização da estrutura departamental no IST, em 1980 veio permitir dar coerência e unidade a uma entidade até então mais difusa e desligada como « curso de engenharia-química». O Departamento de Engenharia Química passou a estar subdividido em secções que correspondiam, com alguns pequenos rearranjos, às unidades que anteriormente eram designadas por .departamentos. e que correspondiam aproximadamente a áreas científicas de ensino e, até certo ponto, de investigação. As secções eram as seguintes: Química-Física e Termodinâmica, Química Orgânica, Química Inorgânica, Química Analítica, Fenómenos de Transferência Aplicados, Projecto Químico e Engenharia das Reacções, Processos de Engenharia Química.

A área emergente da Biotecnologia, introduzida no DEQ pelo PROFESSOR JÚLIO MAGGIOLLY NOVAIS, ainda não tinha a crítica necessária para ser, legalmente, uma secção mas já funcionava, na prática, como tal. A implementação da estrutura departamental foi, em parte, um dos motores para a revisão curricular iniciada em 1983 durante a vigência do primeiro Presidente do DEQ(1980 a 1984) Professor Luís de Almeida Alves. Esta reforma criou três ramos na Licenciatura em Engenharia Química, pelos quais os alunos podiam optar após os dois primeiros anos que eram comuns. Os três ramos admitiam números diferentes de alunos, que eram determinados, em cada ano, pelas previsões do mercado de emprego e pela capacidade em espaços laboratorial e em docentes das várias secções do Departamento. Os três ramos eram os seguintes:

•   Ramo de Processos e Industria, que é uma evolução do ramo Tecnologia e Indústria da restruturação de 1970, no sentido de o aproximar mais ao conceito de Engenharia Química dos países anglo-saxónicos.

•   Ramo de Química Aplicada, uma evolução do anterior ramo de Química e Processos, fortalecendo uma sólida formação básica nos vários domínios da Química.

•   Ramo de Biotecnologia, o "novo" ramo, que demonstra a importância crescente desta área Científico/Tecnológica no DEQ, a exemplo do que acontecia a nível internacional.

É interessante, que o aparecimento da Licenciatura em Engenharia Química - Ramo de Biotecnologia, segue uma tradição da existência de disciplinas da área das Ciências Biológicas, nomeadamente Análises Biológicas e Bromatológicas introduzidas, em 1912, por Charles Lepierre.

Embora este modelo tenha funcionado com êxito durante vários anos, a evolução interna do DEQ e também razões que lhe eram externas levou a que cerca de 10 anos após a sua implementação tivesse começado uma reflexão sobre a licenciatura numa perspectiva do desenvolvimento estratégico do Departamento. Por um lado, os docentes mais ligados à Engenharia Química, cujas qualificações académicas se vinham acentuando através de investigação e realização de doutoramentos pretendiam dar mais visibilidade a uma licenciatura em Engenharia Química ainda mais marcada pelo que, simplificadamente, é designado por modelo anglo-saxónico. Por outro lado, o número de docentes bastante activo na área da Biotecnologia também vinha aumentando é era óbvio o desejo de dar mais visibilidade ao que era o então ramo , apostando na importância crescente das ciências biológicas e sua aplicações tecnológicas para além do valor apelativo junto dos estudantes candidatos ao ensino superior universitário.

Finalmente do lado dos docentes mais orientados para a química, área de grande tradição e qualidade no Departamento, havia também o anseio de um curso muito mais centrado na Química. Do ponto de vista exógeno há dois aspectos importantes que convém referir: a .movida. de vários departamentos do IST no sentido de criação de novas licenciaturas e o fim do tabu de o IST ser única e exclusivamente uma escola de engenharia, tabu esse que tinha sido quebrado com a criação da licenciatura em Matemática Aplicada e Computadores.

Após muita reflexão e discussão foi elaborado um projecto muito ambicioso, liderado por ALBERTO ROMÃO DIAS, Presidente do DEQ, por vários mandatos, e uma referência Institucional, que se baseava nas três áreas cerne de competência do Departamento: a Química, a Engenharia Química e a Biologia (molecular e celular). A cada uma destas três áreas correspondia uma licenciatura. Por intersecções óbvias entre estas três áreas surgiriam outras três licenciaturas: Engenharia Biológica (Engenharia Química e Biológica), Bioquímica (Química e Biologia) e Química Industrial (Química e Engenharia Química).

Um certo pragmatismo, imposto pela Comissão Coordenadora do Conselho Científico do IST, levou nesta restruturação, à implementação de três licenciaturas:

•   Licenciatura em Engenharia Química, herdeira do Ramo de Processos e Industria.

•   Licenciatura em Química, herdeira do ramo de Química Aplicada e prevista para funcionar com dois perfis: Química e Bioquímica.

De notar que embora se tratando de uma licenciatura em Química as disciplinas de Matemática são as mesmas das licenciaturas em Engenharia para manter a "imagem de marca IST".

•   Licenciatura em Engenharia Biológica, herdeira do ramo de Biotecnologia e para a que foi feito um esforço apreciável de recrutamento de novo pessoal docente de elevada craveira.

Com o aparecimento destas três licenciaturas foi possível aumentar significativamente o numerus clausus global do DEQ.

Aquando do seu lançamento, todas estas três licenciaturas tiveram grande procura. O seu futuro, para além das correcções internas que surjam sejam consideradas adequadas, irá ser condicionada pela quebra geral do número de candidatos ao ensino superior por conhecidas razões demográficas, pelos modismos vigentes e pela fuga, que é universal, dos estudantes da áreas mais tecnológicas. Muito importante é a imagem que o Departamento conseguir transmitir para o exterior sobre as suas licenciaturas.