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OBSERVATÓRIO | António Faria

26 novembro 2019, 15:35 - Paula Cristina Martins Marques Santinho

“Atención: la percepción requiere participación.” Antoni Muntadas


A partir do livro “Novas Ideias para a Universidade”, de Pedro Conceição, Diamantino F. G. Durão, Manuel V. Heitor e Filipe Santos, 1998, IST Press


Esta instalação (criada para Serralves), composta por um livro/objeto e 6 desenhos sobre fotografia, convida-nos a entender o livro como um livro de artista, ou seja, um objeto que vive da experiência física e estética que é capaz de oferecer ao espetador, que não se esgota na possibilidade da sua leitura, mas nos abre hipóteses simbólicas e de sentido mais alargadas, também do ponto de vista da sua forma e da sua construção.

O livro é aqui a porta de acesso ao conhecimento, não à informação descontextualizada e sem tempo de amadurecimento, mas um conhecimento que resulta de uma procura, de uma curiosidade que não se exime à proximidade das coisas, à sua observação, como quem observa através de um visor de microscópio, ou de uma lente de telescópio. O que este trabalho questiona são os níveis de atenção necessários ao estudo e à aprendizagem, essa questão reveste-se da maior relevância na atualidade, uma vez que a aceleração trazida à sociedade pelas novas tecnologias da informação, gerou novos hábitos que conduzem, por vezes, a dificuldades de concentração e à perda do foco.

A fotografia no centro deste trabalho, alvo da observação através do óculo, corresponde à fixação, através da câmara de Augusto Alves da Silva, de um professor a lecionar, num ambiente propício à concentração, com utilização de um retroprojetor, uma referência quase arqueológica das salas de aula; e é nessa presença e nessa atenção que tudo se concentra.

Os desenhos que acompanham esta instalação documentam a própria construção do dispositivo e são atravessados por elementos naturais, ramos e troncos de árvores, como se essa referência matricial à natureza devesse ser inscrita em cada gesto, em cada momento do crescimento, da educação e da evolução de cada ser humano.

A instalação, patente no Museu DECivil, até 9 de dezembro, “usa” o museu como Montra, de forma dinâmica - numa relação dentro e fora -, tornando-o um espaço aberto, que convida à interação com a peça exposta e o espaço museológico. Com esta iniciativa, que alia arte, conhecimento e tecnologia, a IST Press associa-se ao 2.º Encontro “A Universidade de Lisboa e o Património”.


“É bom pensar, melhor ainda é olhar e pensar, mas o melhor de tudo é olhar sem pensar”

Goethe